quarta-feira, 26 de abril de 2017

Zona Literária #31 | Deuses Americanos



É impressionante a gama de histórias inusitadas que temos por aí, sejam elas boas ou ruins, é fantástico quando você descobre livros com ideias sensacionais e que você nunca parou para pensar sobre, mas quando conhece e para pensar, vê que a ideia é muito interessante e que, para matar sua curiosidade, você precisa ler e ver como começa e se desenrola a história. Isto acontece com Deuses Americanos, do famoso autor Neil Gailman.


A premissa inicial da obra é simples, porém surge de uma ideia base que eu particularmente nunca pensei a respeito. Nela deuses existem. Isso mesmo, o panteão nórdico, grego, romano, egípcio... Eles existem, sempre existiram. Porém como esses deuses surgiram? Esta pergunta é respondida quando sabemos um pouco da história. As pessoas criam os deuses, ao imaginarem figuram a quem adorar e orar. Então, numa era contemporânea novos deuses surgem. O deus da televisão, o deus da tecnologia, o deus das autoestradas... E quando novos surgem, não sobra espaço para os antigos, que vivem fracos e esquecidos, espalhados pelos EUA e com o tempo, acabarão sendo apagados da existência.

A fim de não desaparecerem, uma guerra está prestes a explodir, entre os novos e o antigos. 

Quase toda a história é mostrada pela perspectiva de um homem. Shadow é seu nome. Por alguma bobagem que fez na vida, acaba preso e ele nos é introduzido logo quando está saindo para sua condicional, depois de alguns anos na cadeia. Então ele vê seu mundo desabar, ao mesmo tempo em que um homem misterioso lhe oferece um emprego.

E por que vemos quase toda a história pelo olhar de Shadow? Porque, apesar do livro seguir uma linha de narrativa linear, temos alguns capítulos inseridos ali de vários pontos da história do mundo, contando pequenas passagens de deuses variados ou de pessoas e seus encontros com esses deuses e criaturas mitológicas. Vale lembrar que essas partes são muito interessantes, mas tendem a ter situações bem adultas e às vezes até brutais, mas que o autor descreve muito bem.

Deuses Americanos é um mistério, que te instiga a querer saber o final e os motivos de ações, tudo isso regado com muita mitologia e até referências a lugares reais. O livro possui mais de um ponto onde há descobertas, uma podendo chocar e/ou surpreender mais que a outra. Com um texto fácil, Gailman constrói muito bem seus personagens, tanto humanos, quanto deuses e acredite consegue enganar o leitor com informações, que estavam ali o tempo inteiro. É engraçado lembrar de algo que ele menciona nas primeiras páginas do livro e mais de duzentas e cinquenta páginas depois, quando ele volta com aquilo, você não acredita no que era e quando confere, determina que é genial. 

O livro, apesar do que se possa imaginar, não é sobre pancadaria épica entre entidades divinas e sim sobre intrigas, drama, relações humanas e religiosas e violência, nua e crua. Há sofrimento, mesclado a uma visão mística, o mais pé no chão que algo assim possa conseguir ser. Não há deuses descendo à Terra em criaturas aladas em pontes de luz, pelo contrário. Eles se assemelham a pessoas normais, misturados. Os antigos, são praticamente pessoas comuns aos olhos de todos. São velhos trancados em casa, prostitutas e golpistas, tudo sob um olhar mais sombrio.

A magia está lá, só basta você enxergar.

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