sexta-feira, 22 de junho de 2018

Cinema & Afins #124 | Hereditário



Pelo menos uma vez ano, temos um filme de terror que aparenta ser promissor, que trará algo a mais que o simples “jumping scare” e uma história melhor desenvolvida, sem tanta mesmice. Muitas vezes, esse tipo de filme é mais complexo e não agrada a maioria do público, mas a verdade é que é necessário ir além. Desta vez, com Hereditário, temos mais que o terror simples e puro, o diretor Ari Aster  algo novo.


É certo dizer que, além do terror vendido pela divulgação do filme, Hereditário traz muito mais gêneros para dentro de sua história. Temos drama, suspense e horror, com algumas cenas bastante brutais e pontuais. Por um momento, enquanto você acompanha a história de uma família que acabou de perder a avó materna, temos uma história que se desenrola por caminhos incertos, e isto não é algo necessariamente ruim. Os personagens, muito bem estabelecidos em suas determinadas personalidades e ligações emocionais, pouco a pouco vão interagindo mais e mais numa trama que, apesar de seguir uma linha principal e coerente, consegue trazer reviravoltas realmente surpreendentes.



No desenrolar, enquanto vemos a mãe Annie (Toni Collette) lidando com o sentimento de perda e a relação com os filhos e o marido, temos o rapaz e filho mais velho Peter (Alex Wolff) demonstrando possuir um relacionamento difícil com sua progenitora, porém muito mais amigável com o pai, Steve (Gabriel Byrne), um homem que definitivamente merece o prêmio como bastião de paciência e companheirismo e que, e digo isso com alguma certeza, é o personagem que por mais tempo suporta todas as mazelas do caminho. Enquanto ainda temos a filha mais nova, Charlie (Milly Shapiro), que demonstra uma personalidade mais retraída e peculiar.

A forma como Hereditário foi filmado é, sem sombras de dúvidas, diferenciada. A todo instante você têm a ligeira – e por muitas vezes quase exagerada – certeza de que os momentos passados dentro da casa são na verdade em uma casa de bonecas, tendo inclusive transições sem cortes de um cômodo a outro como se você, aquele que a assiste a história, estivesse realmente vendo de fora de uma casa de bonecas aberta na lateral. Tudo isso ainda se torna ainda mais profundo, quando Annie trabalha justamente com a criação de miniaturas para exposições e em casas de bonecas e traz a impressão de que tudo é orquestrado por alguém que assiste de fora.

Hereditário passeia por entre o drama bastante denso de maneira muito bem e por entre algumas reviravoltas, transitando entre a loucura e o sobrenatural, mostrando horror e terror de maneira bastante pontual, porém com total eficiência, usando muito bem de planos escuros e da subjetividade, tão necessária ao se trabalhar com o medo. Resumindo, o filme de Ari Aster, foge ao clichê, traz uma história madura com uma forma de assustar peculiar, pelo menos perante as tantas outras massas de filmes que tentam fazer o mesmo. Talvez não agrade a todos, pois ele apresenta uma certa complexidade, ele exige pensar, mas sem dúvidas, nos entrega o terror e o medo de que precisávamos.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário