quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Comics & Cosmics #57 | Demônios de Goetia



Tudo começou com o desespero verde, na coletânea O Despertar de Cthulhu, uma obra nacional de extrema qualidade, com histórias em quadrinhos inspirados nos horrores inomináveis de H.P Lovecraft. Seguimos então para a loucura amarela, em o Rei Amarelo... Desta vez a Editora Draco finaliza sua trilogia de horrores cósmicos com a tentação vermelha, Demônios de Goetia


Goetia é uma sistema mágico e compêndio ritualístico, que trata da invocação e evocação de 72 espíritos malignos, ou se preferir, demônios. Este seria o primeiro registro do manuscrito, que teria sido desenvolvido pelo Rei Salomão, o que lhe conferia controle sobre estes demônios e poderes sobrenaturais. Porém, a goetia é bastante especifica e repleta de regras que devem ser seguidas regradamente. Um erro ou um pequeno descuido pode fazer com que o ritual dê errado e você acabará a mercê de príncipes demônios de imenso poder. E é com base nisto, que os oito contos da HQ se baseiam.

A primeira coisa que temos certeza, apenas com um olhar rápido para a capa da obra é de sua beleza mórbida. O demônio, retratado em tons de vermelho, com fendas costuradas e engrenagens mescladas a sua anatomia grotesca, passa exatamente o clima que todas as histórias que o volume carregam. Este terceiro volume, ouso dizer, talvez seja o mais emblemático visualmente, o mais violento e horrorosamente bonito.

Cada história bebe de um fonte distinta, e muitas vezes moderna e que compõe nosso cotidiano, para contar uma história. Algumas se beneficiam de uma narrativa mais como em um livro, outras entretanto, abusam dos diálogos. Na primeira história, Arapuca (Raphael Fernandes e Daniel Canedo), acompanhamos a história de um jovem desiludido com sua vida e que acaba postando um vídeo dizendo que iria se matar. Ele decide seguir as instruções de um usuário anônimo e acaba invocando um poderoso demônio. Em sua ignorância e descrença, acaba por negligenciar ás tão importantes regras do ritual, trazendo um ser poderoso e sem amarras para sua vida. 

Em Mestre da Arte (Caio H. Amaro e Flávia Lima) acompanhamos um homem disposto a tudo para salvar seu namorado que possui uma grave doença, até a fazer pactos com demônios cada vez mais poderosos, o desespero, entretanto, faz com que ele tome medidas imprudentes. Enquanto em Teratoma (Juscelino Neco), temos uma narrativa mais distante, com um ar ao estilo de o Bebê de Rosemary, porém elevado a enésima potência em questões de horror.



Em Semente (Erick Santos Cardoso e Kaji Pato) e El Cartel de Las Hermanas Satánicas (Airton Marinho e Victor Freundt), acredito serem as histórias mais agressivas visualmente. O primeiro conta a história de um rapaz estereotipado, mas que figura como o famoso hater da internet, que destila ódio, homofobia, machismo e racismo protegido pela tela de seu computador, mas que encontra um destino agoniante após contrariar uma suposta satanista em uma rede social. Na segunda história, temos uma narrativa mais linear e também totalmente voltada para uma violência clara e com traços macabros de seres horrendos e lordes demônios. 

Colônia (Tiago P. Zanetic e Kaji Pato) apesar do traço mais simplório, consegue alcançar o posto de história mais perturbadora, ao relatar, dentro de poucas páginas, as reviravoltas de uma invocação demoníaca dentro de um sanatório deplorável. Entretanto, temos duas histórias em especial que fogem ao padrão das demais, trazendo diversificação a coletânea. A primeira delas é YHVH (Alexey Dodsworth e LuCAS Chewie), que ao invés de invocar um demônios (ou 72 deles), um homem invoca um anjo e ao contrário do que você possa pensar, não se mostrou ser algo muito bom. E por fim, O Jogo (Antonio Tadeu e Ioannis Fiore), que foca-se desta vez em demônios vangloriando-se de suas façanhas sórdidas ao longo da história da humanidade, e que carrega, sem sombras de dúvidas, a melhor de todas as oito histórias. 

Por fim, e agora parafraseando a própria sinopse da HQ, Demônios de Goetia é a condenação final da alma, mas também é um trabalho primoroso, tanto de arte como de roteiro, muito bem organizado por Raphael Fernandes e que fecha com maestria a trilogia de horrores cósmicos. 

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