Zona Literária #10: Jogador nº 1

Arte da capa por Florian de Gesincourt

Os RPGs são conhecidos por sua mágica de "imersão". Antes mesmo de qualquer video game eles poderiam nos transportar a mundos desconhecidos cheios de aventuras e desafios. Popularizados como parte da "cultura nerd" dos anos 80/90, a integração com a tecnologia que criou os RPGs online apenas estendeu esse reino. Assim um livro que juntasse toda essa cultura, juntando aventura, ação e um pouco de romance é o mais natural. Em um mundo onde a devastação do mundo chegou em um ponto insuportável, a única solução é a utopia de um mundo online.
Mas será que essa utopia realmente vai durar? Ou a ganância humana também irá destruir esse mundo?

Jogador Nº 1 (ou Ready Player One no original) é um livro de ficção de Ernest Cline. Apesar de ter feito considerável sucesso nos Estados Unidos, ele chegou no Brasil pela primeira vez sem muito alarde e senão fosse o acaso, eu não teria conhecido este livro que se tornou um dos meus favoritos.
Na correria do dia a dia, final de ano ainda, não é incomum você se perder em suas próprias tarefas e no pouco tempo em que pode se distrair procura algo despretensioso, apenas para passar o tempo. Algo simples, comprado com pressa em uma livraria de aeroporto, que não vá te ocupar muito. Essa era a aparência no entanto, pois seu conteúdo, me prendeu por dois dias inquietos em que eu lia em qualquer folga.
Por que eu estou contando a forma como achei esse livro? Talvez você esteja pensando isso, mas é importante para mim mostrar que mesmo sem fazer alarde, virar febre entre os brasileiros, algo como um livro "julgado pela capa" me rendeu horas ( e dias) de admiração e pesquisa. Por tanto, no futuro, se permita escolher seu livro por uma intuição, livre de resenhas, estrelas no Skoob ou qualquer outra classificação.
Dito isso vamos finalmente falar sobre o enredo.

A história se passa em um futuro distópico. Poluição, fome e miséria dominam boa parte da população, contudo não há o que temer, pois você sempre pode mudar essa situação através do OASIS. Com um trocadilho esperto, a sigla OASIS se refere a um sistema online que permite ao usuário imergir em sua simulação. Lá a humanidade se refugiou das guerras e todas as calamidades que a afligem. Criada por Halliday, esse MMORPG conquistou a humanidade e agora a educação, os trabalhos e qualquer tratamento, pagamento ou até diversão é feita no OASIS. Porém quando Halliday morre um testamendo diferente do que o normal é deixado, através do Convite de Anorak ele desafia aos jogadores a encontrarem três chaves que lhe concederão acesso ao seu "easter egg" especial. O prêmio para quem achar esse tesouro? O próprio OASIS.
Logo uma busca se inicia e perdura por anos, os chamados caça-ovos pesquisam, analisam e revivem a cultura dos anos 80 tão amada por Halliday na esperança de encontrar uma pista para a primeira chave. Mas Wade Watts, um garoto pobre, que vive em meio a trailers empilhados e se esconde em uma van durante dias e noites consegue achar a primeira chave e assim reinicia a corrida pelo Easter Egg de Halliday, competindo não só contra seu melhor amigo e outros milhões de jogadores, como contra a IOI uma empresa que investe milhões em uma divisão especial com o intuito de achar o Easter Egg e comercializar o OASIS.
Escrito de forma fluente, recheado de referências dos anos 80 e bom humor, este é um livro que não só te transporta para outro mundo, mas para universos completamente diferentes. O amor, a amizade, a determinação, tudo isso será testado e através de desafios e um pouco de angústia podemos conferir o amadurecimento de Wade ao superar suas próprias dificuldades e conviver com os outros jogadores. Cada personagem principal nos mostra um conflito, uma reflexão sobre a nossa sociedade. Começando pela própria humanidade ao se deixar levar a tal ponto crítico, passando para conflitos comuns como a insegurança de uma adolescente com sua aparência e suas escolhas, a aceitação da sociedade e a individualização do ser humano.
Esta obra incrível agora em sua segunda edição pela editora LeYa também contará com um filme produzido pela Warner Bros e Roadshow, com direção de Steven Spielberg! Sim, esse grande diretor que é referido diversas vezes na obra dirige o filme que tem estréia prevista para 2017.
Agora só nos resta esperar e torcer para que a adaptação, mesmo com cerca de duas horas e meia (vamos chutar alto, mas não chegar nas três horas, né?) consiga transmitir toda a mensagem que O Jogador Nº 1 trás. Não só por seus mundos imaginativos de tirar o fôlego, mas pelas relações e decisões estabelecidas entre Wade(ou Parzival) e os principais competidores (Art3mis, Aech -meu favorito- , Shoto, Daito e até Sorrento) que nos fazem devorar as páginas ao mesmo tempo em que admiramos a obra.
Que tal passar o tempo livre no final do ano com essa obra encantadora? Então entre em uma livraria online agora e prepare-se para explorar esse novo mundo imergir no mundo incrível de Ernest Cline.